Como o serviço de streaming pode ajudar a melhorar o mercado esportivo no Brasil

As transmissões via streaming podem não ser uma novidade, mas ainda estão longe de ser uma realidade do fã de esportes. Apesar do consumidor brasileiro estar acostumado com serviços como Netflix, NOW e Prime Video, ainda não exsite o hábito de consumir esporte via streaming. Esta realidade, porém, pode estar prestes a mudar. Com a necessidade de impulsionar o mercado esportivo brasileiro, novos players podem ser o fator chave que faltava para o mercado brasileiro se adaptar e crescer.

Levando em consideração o futebol, que sé a principal modalidade esportiva nacional e tal vez o sonho de consumo de qualquer plataforma de streaming que queira se aventurar no mercado brasileiro, é importante deixar claro que o modelo de negociação para transmissão de partidas se mantém há décadas. Com o monopólio da TV Globo, que limita a transmissão das demais partidas da rodada para assinantes do seu canal a cabo de Pay-Per-View, investidores interessados em conquistar o maior produto esportivo nacional teriam que enfrentar forte resistência da mídia tradicional. Outras modalidades, porém, que mal conseguem tempo de televisão e que dependem da TV por assinatura e do patrocínio de instituições públicas e provadas para sobreviver, seríam a melhor porta de entrada no mercado brasileiro.

Um olhar mais atento sobre a situação atual e como o streaming pode ajudar a indústria esportiva

Desta forma, o esporte mais assistido do Brasil fica refém de um sistema de transmissão engessado e que prende os clubes a contratos de exclusividade muito longos com a emissora uma vez que não existe uma Liga que represente os interesses dos mesmos, como a Premier Ligue, a Bundesliga ou a Major League Soccer. Apesar dos bons índices de audiência, um olhar mais atento comprova que essa exclusividade com as emissoras de televisão não permite aos clubes explorar novas formas negócio, criar categorias para vender outras cotas de patrocínio e de elaborar campanhas de marketing mais modernas. O melhor exemplo talvez seja o de como os clubes não conseguem explorar nem mesmo o seu próprio estádio uma vez que a comunicação visual dentro dele precisa atender as necessidades estabelecidas pela emissora. Um caso polêmico, mas emblemático, é o do Allianz Parque, estádio localizado em São Paulo e casa do Palmeiras, um dos maiores clubes do país. Por políticas que não são muito claras, a emissora se recusa a falar o nome “Allianz”, alegando que isso seriam fazer propaganda gratuída de uma marca que não paga para ter exposição de mídia em seus canais. Tal atitude, porém, não passa de um tiro no pé e uma desvalorização do próprio produto, uma vez que a emissora não motiva investidores a fazerem grandes investimentos no esporte nacional.

Enquanto ainda não existe uma liga para defender os interesses em comum dos clubes de futebol, alguns cases de sucesso começam a aparecer no Brasil. E justamente de modalidades consideradas secundárias e que não contam com o mesmo orçamento do futebol. O mais famosos talvez seja o da Liga Nacional de Basquete, que se profissionalizou e mudou seu modelo de gestão, deixando de ser um campeonato a beira da falência em 2008 para ser exemplo de gestão esportiva e a liga mais bem desenvolvida do país. Além de diversas mudanças que profissionalizaram o esporte, como uma parceria com a própria NBA, a NBB (Novo Basquete Brasil, nome oficial da competição) adotou um conceito multicanal, realizando acordos com parceiros importantes para que as partiudas pudessem ser transmitidas em todas as plataformas possíveis. Hoje, o basquete brasileiro é transmitido no Facebook, Twitter, YouTube e também nos canais de televisão, contando com transmissões na TV por assinatura e na TV aberta, provando que mídias digitais e tradicionais podem sim coexistir e dividir a transmissão de um mesmo produto. Isso fez com que a NBB estivesse sempre em alta nas redes sociais, praticamente se promovendo sozinha e permitindo que seus parceiros comerciais desfrutassem dessa mesma exposição. Se engana quem pensa que com tantas formas de assistir aos jogos os ginásios ficam vazios. A NBB soube tão bem usufruir do conceito americano e transformar suas partidas em um grande evento, contando até com atrações musicias, que hoje é um sonho de consumo para qualquer fã de esportes. Para o fã de basquente, então, um estilo de vida. Ainda mais no Brasil, que possui um público carente por conteúdo esportivo acessível e de qualidade.

Transmitindo esportes via streaming!

O grande trunfo da NBB foi aprender com seus erros, atitude que começa a ser vista pelos gestores do futebol. Nos últimos anos, alguns clubes se destacaram por suas gestões profissionais e sustentáveis, priorizando o planejamento a longo prazo, a quitação de dívidas e o aumento de fluxo de caixa. Tudo com a atuação fundamental do departamento de marketing que passou a ter mais liberdade para explorar novas formas de trabalhar a marca e procurar por paceiro dispostos a patrocinar novas ações.

O movimento de transmissão esportiva via streaming é irreversível. Nos Estados Unidos, o modelo já está tão consolidade que até as redes sociais passaram a ser players desse mercado. Hoje em dia, a NFL, principal liga esportiva do país, divide seus direitos de transmissão por dia, com cada canal de televisão e plataforma de streaming tendo direito a um dia da semana de exclusividade. Dessa forma, não há conflito de interesse entre meios digitais e televisão onde todos saem ganhando. CBS, FoxSports, ESPN e NBCUniversal dividem os direitos de transmissão, utilizando inclusive suas plataformas digitais. No Brasil, além da TV a cabo, é possível assistir ao futebol americano pelo Prime Video, plataforma de streaming da Amazon que conta com um vasto catálogo de filmes, séries e produções originais. Na Europa, o Facebook recentemente adquiriu os direitos de transmissão da Premier League para a Ásia e da La Liga para a Índia.

Outras grandes ligas do país do Tio Sam preferiram lançar suas próprias plataformas de streaming, como a NBA e a MLS. Em ambos os casos, a liga vende a transmissão de toda a temporada por um preço fixo onde o assinante tem acesso a todas as partidas ao vivo, melhores momentos, conteúdos exclusivos ou assistir a qualquer jogo na íntegra a qualquer hora. O valor sofre alterações com o passar da temporada, podendo ser adquirido por um valor mais baixo na metade do ano. Um exemplo similar no futebol é o lançamento da plataforma prórpia da UEFA, já anunciada pela entidade para complementar o conteúdo que já é transmitido pela TV paga. Cientes de que a venda de direitos para as televisões de todo o mundo ainda são responsáveis pela maior parte de seu faturamento, a UEFA quer usar sua plataforma para promover competições menos assistidas como os campeonatos femininos, juvenis e também imagens de bastidores, resumos das principais partidas e conteúdo exclusivo para assinantes da plataforma, provando que plataformas digitais e televisão podem sim conviver de forma saudável.

A notícia mais chocante para o mercado brasileiro talvez tenha sido a da aquisição dos direitos de transmissão da UEFA Champions League pelo Facebook e não pela Globo, que nem sequer entrou na disputa pelos direitos devido ao aumento dos custos para manter todas as suas competições. O Facebook chegou a disputar com a Globo os direitos pela Libertadores em território brasileiro (a rede já transmite em outros países da América do Sul), evidenciando que as plataformas digitiais chegaram para ficar, com os investimentos e meios necessários para bater de frente com emissoras tradicionais.

No Brasil existe espaço para seguir o exemplo da NFL e da UEFA, negociando parte de seus direitos para plataformas digitais. Com o aparecimento de serviços por assinaturas de conteúdos online de canais a cabo, como a Fox, se vê como tendência o abandono do brasileiro das operadoras de TV por assinatura. Aquele que souber suprir as necessidades dos consumidores, sem agredir demais a televisão e realizar essa transição de maneira suave, será o primeiro a desbravar um rico caminho ainda inexplorado no mercado esportivo brasileiro.

Written by: Sherlock Communications