Julho na América Latina: tarifas dos EUA, retomadas econômicas e tensões sociais na região

Sherlock Communications > Blog > Novidades na América Latina > Julho na América Latina: tarifas dos EUA, retomadas econômicas e tensões sociais na região
Getting your Trinity Audio player ready...

México adiou por 90 dias o tarifaço dos EUA; a inflação voltou ao intervalo-meta (3,55%) e o PIB evitou recessão (+0,7%), enquanto cresciam os protestos contra a gentrificação.

A Argentina registrou forte retomada (+7,6% no 2º tri), recebeu um desembolso do FMI e iniciou passos para recuperar o Visa Waiver, em meio a tensões sociais pelo ajuste.

América Central e Caribe: a Guatemala elevou reservas com um eurobono e teve melhora de rating; El Salvador aprofundou a diplomacia econômica na China; Honduras recebeu mais divisas de café, remessas e serviços; a Costa Rica aumentou exportações e atraiu milionários; a República Dominicana consolidou a liderança de suas zonas francas.

Andes: o Peru avaliou destravar US$ 6 bilhões em mineração e prevê impacto moderado da tarifa dos EUA sobre o cobre; também adjudicou um sistema nacional de videomonitoramento; o Panamá ativou agenda com o Mercosul e investimentos.

O Brasil debateu as tarifas dos EUA, com acusações de interferência e investigação sobre possível vazamento; também se destacaram microbolsas sobre greenwashing/transição energética e o início dos reembolsos a vítimas de fraudes do INSS.

México

México chega a acordo para adiar tarifas por 90 dias

Julho foi um mês-chave para o México do ponto de vista noticioso. Os desdobramentos econômicos dominaram os holofotes, especialmente em meio ao deterioro da relação comercial do país com os Estados Unidos. Anúncios de tarifas feitos pelo presidente Donald Trump geraram apreensão num momento em que se acreditava que o México não estava entre os alvos de sua política comercial.

Em meados de julho, o governo dos EUA anunciou a imposição de uma tarifa de 20,91% sobre o tomate mexicano. A tarifa é relevante porque o tomate é o segundo principal produto agroalimentar de exportação do México em volume, atrás apenas do abacate. Além disso, 99% do tomate exportado pelo país em 2024 (US$ 3,34 bilhões) foi enviado aos Estados Unidos.

Esse não foi o único anúncio tarifário contra o México. O governo norte-americano afirmou que seu maior parceiro comercial enfrentaria tarifas de até 30% sobre todos os bens fora do USMCA a partir de 1º de agosto, citando a falta de medidas satisfatórias para lidar com a migração ilegal e o tráfico de drogas através da fronteira comum.

No entanto, um dia antes de as tarifas entrarem em vigor, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum Pardo, anunciou em sua coletiva diária que, após uma ligação com o presidente dos EUA, Donald Trump, ficou acordado adiar por mais 90 dias o início da cobrança sobre bens mexicanos. A informação foi confirmada por Trump no Truth Social.

No front dos indicadores, chamaram atenção os dados de inflação da primeira quinzena, que desaceleraram pela terceira vez consecutiva para 3,55% em 12 meses. O resultado veio melhor que o esperado e retornou à faixa-meta do Banco do México (3% ± 1 ponto), o que pode abrir espaço para um corte de juros na reunião do banco central em 7 de agosto.

No fim do mês, saiu a primeira estimativa do crescimento do PIB do México no segundo trimestre. Os dados mostraram alta de 0,7%, acima dos 0,3% esperados por analistas. Com o segundo trimestre seguido de expansão, o país evitou recessão técnica, embora especialistas ainda vejam sinais de fraqueza. Os números finais serão divulgados no próximo mês.

No plano doméstico, o debate público foi marcado pela polarização social em torno da gentrificação. Realizaram-se três manifestações na Cidade do México para protestar contra o aumento do custo de vida e o deslocamento provocados por esse fenômeno. O governo local anunciou uma consulta pública para discutir como enfrentar a gentrificação na capital.

No esporte, o futebolista Javier “Chicharito” Hernández — ex-Real Madrid e Manchester United e atualmente no Chivas de Guadalajara — gerou controvérsia com comentários machistas nas redes sociais. A reação pública girou em torno da necessidade de uso responsável das redes por figuras públicas.

Argentina

No campo econômico, a Argentina registrou 7,6% de crescimento no 2º trimestre de 2025, o maior em anos, impulsionado pelo consumo varejista, construção e setores industriais. O Fundo Monetário Internacional concluiu a primeira revisão do programa com o país e aprovou um desembolso de US$ 2 bilhões, reconhecendo o ajuste fiscal, maior flexibilidade cambial e controle inflacionário, embora tenha alertado para reservas insuficientes. Apesar da recuperação macro, o poder de compra segue erodido e as desigualdades aumentam: as camadas de menor renda enfrentam preços elevados de serviços básicos, enquanto as de maior renda ampliam viagens, compras no exterior e poupança em dólares.

Nos setores agroindustrial e exportador, as liquidações de exportações em julho subiram 57% na comparação anual, a US$ 4,102 bilhões, em parte por vendas antecipadas antes de um aumento de impostos naquele mês. Além disso, as exportações de hidrocarbonetos cresceram 36% no primeiro semestre, superando US$ 3,7 bilhões e projetando ultrapassar US$ 6 bilhões até o fim do ano, especialmente com os desenvolvimentos em Vaca Muerta.

No plano político, o presidente Javier Milei anunciou a redução permanente das retenções às exportações agropecuárias durante a Exposição Rural de Buenos Aires — medida celebrada pelo setor rural e alinhada à sua agenda de liberalização e redução do tamanho do Estado. Enquanto isso, cresce a tensão interna: cortes em programas sociais, demissões de servidores públicos e confrontos com a oposição, fatores que aprofundam a polarização e alimentam críticas sobre o impacto social da austeridade fiscal.

Quanto ao Programa de Isenção de Vistos dos EUA (Visa Waiver Program, VWP), em julho iniciou-se formalmente o processo para a Argentina recuperar esse status, após acordo entre a secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, e autoridades argentinas, incluindo Milei e Patricia Bullrich. A Argentina integrou o VWP entre 1996 e 2002, e o objetivo é permitir que cidadãos argentinos entrem nos EUA sem visto para turismo ou negócios por até 90 dias, usando o ESTA. A aprovação final pode levar de um a três anos, já que o país precisa cumprir requisitos como baixa taxa de rejeição de vistos e padrões de segurança migratória.

Guatemala

Emissão de eurobônus eleva as reservas internacionais para US$ 29 bilhões

Em julho de 2025, a Guatemala realizou uma das operações financeiras mais relevantes do ano com a emissão de um eurobônus de US$ 1,5 bilhão, que elevou suas reservas monetárias internacionais (RMI) para US$ 29,014 bilhões, um aumento de 18,8% desde janeiro, segundo o Banco da Guatemala. Esse nível histórico — que pode chegar a US$ 32 bilhões até 2026 — posiciona o país como líder regional em cobertura monetária, equivalente a 10 meses de importações. A operação fortalece a capacidade fiscal e a estabilidade financeira da Guatemala em um cenário global marcado por juros altos, inflação e volatilidade cambial.

A S&P Global Ratings apoiou essa melhora macroeconômica ao elevar o rating soberano da Guatemala para BB+, com perspectiva estável, aproximando o país do grau de investimento. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI), em sua avaliação do Artigo IV, destacou a resiliência da economia guatemalteca frente a riscos externos e internos. Em 2024, as reservas fecharam em US$ 27,1 bilhões, impulsionadas neste ano pela emissão do eurobônus, enquanto as remessas familiares permaneceram fortes (representando 19% do PIB) e o superávit em conta-corrente atingiu 2,9%. Esse ambiente financeiro e fiscal torna a Guatemala um destino atraente para investimento estrangeiro direto, especialmente em setores estratégicos como energia, manufatura, zonas francas e serviços compartilhados.

Fontes:

El Salvador:

El Salvador fortalece a diplomacia econômica com a China e apresenta oportunidades de investimento em Chongqing

Em julho de 2025, El Salvador fortaleceu sua estratégia de atração de investimento estrangeiro direto (IED) ao sediar o fórum empresarial “El Salvador: um parceiro confiável para investimento e negócios” em Chongqing, na China, um dos mais importantes polos industriais do país. Organizado pela Embaixada de El Salvador na China e com apoio do Escritório de Assuntos Exteriores de Chongqing, o evento reuniu mais de 50 empresas chinesas de setores-chave como automotivo, manufatura, tecnologia e café. A iniciativa integra a diplomacia econômica ativa do governo liderado pelo presidente Nayib Bukele, voltada a posicionar El Salvador como um destino de investimento seguro, competitivo e conectado globalmente.

Durante o fórum, autoridades salvadorenhas destacaram avanços na construção de um ambiente pró-negócios, com o crescimento sustentado do IED, acesso preferencial a mais de 40 mercados internacionais (incluindo o DR-CAFTA) e um marco regulatório favorável. Também enfatizaram a transformação interna do país, que o projeta como o mais seguro do Hemisfério Ocidental, elevando significativamente a confiança dos investidores. Entre os setores prioritários estão automotivo, manufatura avançada, tecnologia, serviços digitais, logística e agroindústria de valor agregado — todos apoiados por um arcabouço legal que oferece incentivos fiscais, trâmites simplificados e segurança jurídica, desenhado para maximizar a rentabilidade e a eficiência operacional dos projetos.

Fontes:

Honduras

A economia hondurenha receberá quase US$ 10 bilhões em 2025

No primeiro semestre de 2025, Honduras canalizou US$ 9,87 bilhões em moeda estrangeira para o mercado cambial, um aumento anual de US$ 852,8 milhões, segundo o Banco Central de Honduras (BCH). Esse crescimento foi impulsionado principalmente por três fatores: um salto de 95,3% nas exportações de café, totalizando US$ 1,47 bilhão; um aumento de 25,3% nas remessas, que alcançaram US$ 5,8 bilhões; e uma alta de 32,8% nas exportações de serviços, que renderam US$ 1,03 bilhão.

Os maiores ingressos de divisas fortaleceram a capacidade do BCH de alocar recursos aos setores produtivos: a taxa média de adjudicação nos leilões de divisas atingiu 69,9% em 30 de junho, bem acima dos 36,3% do mesmo período de 2024. Esse incremento na distribuição de liquidez tem sustentado a estabilidade cambial, ampliado o acesso a capital para empresas e reforçado o consumo interno em meio à recuperação econômica em curso.

Fontes:

Costa Rica

Costa Rica: exportações de bens crescem 14% no primeiro semestre do ano

No primeiro semestre de 2025, as exportações da Costa Rica cresceram 14%, um aumento de US$ 1,313 bilhão em relação ao mesmo período de 2024, totalizando US$ 11,012 bilhões.

Segundo dados da PROCOMER (Promotora do Comércio Exterior da Costa Rica), junho marcou um marco histórico: pela primeira vez desde o início da série, as exportações superaram US$ 2 bilhões em um único mês.

O setor de equipamentos médico-hospitalares e de precisão segue liderando as exportações de bens do país, tanto em participação quanto em crescimento, respondendo por 47% do total e avançando 26%. O setor agrícola — segundo colocado, com 17% de participação — registrou alta de 4%, puxada por preços internacionais mais altos, apesar de uma leve queda no volume embarcado.

Fonte:

A Costa Rica atrai milionários do mundo e lidera na América Latina

A Costa Rica consolidou-se como um dos principais destinos da América Central para milionários que decidem se mudar em 2025, de acordo com o Henley Private Wealth Migration Report 2025, estudo global da Henley & Partners. O relatório projeta a migração de 350 milionários para o país neste ano.

Esses números colocam a Costa Rica como um receptor-chave de riqueza em um contexto global no qual 142 mil indivíduos de alta renda estão em movimento. Os principais países de origem desse capital humano são Reino Unido, China, Índia e Rússia, impulsionados por reformas tributárias, busca por estabilidade e mudanças geopolíticas.

Fonte:

República Dominicana

Setor de Zonas Francas lidera as exportações na República Dominicana

No primeiro semestre de 2025, as zonas francas dominicanas consolidaram sua liderança na economia nacional, respondendo por 62% das exportações totais, com vendas de US$ 4,28 bilhões, incluindo US$ 771,96 milhões apenas em junho (alta de 2,8% em relação a junho de 2024). Os principais produtos exportados foram médicos e farmacêuticos (33,7%), seguidos por eletrônicos, tabaco e têxteis. Os Estados Unidos receberam mais de 72% do volume total exportado. O desempenho do setor evidencia sua resiliência nos mercados globais e o sucesso de políticas públicas voltadas à competitividade e ao investimento.

Fonte: 

Panamá

Panamá impulsiona projetos de investimento com nações do Mercosul

Em sua coletiva de imprensa mais recente, o presidente José Raúl Mulino anunciou uma missão empresarial que viajará ao Brasil em 28 de agosto, com o objetivo de promover as exportações panamenhas nesse mercado estratégico. A visita, acordada durante a Cúpula do Mercosul em Buenos Aires, ocorre após a recente adesão do Panamá como Estado associado ao bloco regional. A delegação incluirá representantes de setores-chave como logística, comércio, banca e agroindústria. 

O presidente também revelou que Luiz Inácio Lula da Silva visitará o Panamá em janeiro de 2026 como palestrante principal do Fórum Econômico da América Latina, organizado anualmente pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Mulino ainda destacou avanços na cooperação com a Argentina, incluindo planos para uma planta de processamento de carne e uma empresa de laticínios voltadas à exportação, além dos esforços contínuos para a entrada do Panamá na OCDE, visando fortalecer seu posicionamento internacional e atrair investimentos.

Fonte: 

Peru

Peru projeta crescimento para o futuro

O governo avalia aprovar projetos minerários no valor de US$ 6 bilhões. A presidente Dina Boluarte informou que sua gestão está analisando dar luz verde a 134 projetos de exploração e lavra, estimados em US$ 6 bilhões. Espera-se que o setor de mineração de pequena escala formal gere mais de US$ 5 bilhões em vendas anuais e que quase US$ 4,7 bilhões em projetos formais iniciem obras antes de 2026. Os anúncios ocorreram no contexto de uma trégua temporária de mineradores informais, que haviam bloqueado uma rota chave para o transporte de cobre na região de Cusco, exigindo a prorrogação dos prazos do programa de formalização (REINFO). Nesse sentido, o Executivo anunciou que pretende incluir cerca de 31 mil mineradores informais em um processo de formalização até o fim do ano e lançar um fundo privado de mineração para melhorar o acesso ao financiamento de pequenos mineradores formais.

Fonte:

Da mesma forma, o Banco Central de Reserva do Peru (BCRP) manteve sua previsão de crescimento do PIB em 3,1% para o ano, mas alertou para possíveis efeitos adversos após o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de tarifas de 50% sobre importações de cobre semielaborado, vigentes a partir de 1º de agosto. Embora apenas cerca de 5% das exportações peruanas de cobre tenham como destino os EUA, o BCRP considerou que o impacto agregado na economia será moderado, observando que os altos preços do cobre e a capacidade limitada dos EUA de substituir importações podem levar a um efeito restrito sobre as contas nacionais e a arrecadação tributária.

Fontes:

Por outro lado, o setor de tecnologia também foi destaque no mês. A espanhola Amper venceu um contrato de 37,07 milhões de sóis (cerca de 9 milhões de euros) com o Ministério do Interior para implantar um Sistema de Videovigilância Inteligente em nuvem privada. O projeto — parte da iniciativa “Perú Seguro 2025” — integrará cerca de 3.000 câmeras em 70 municipalidades, utilizando inteligência artificial para fortalecer a capacidade operacional da Polícia Nacional. A adjudicação coincide com um aumento de capital de 77,1 milhões de euros, como parte do plano estratégico 2023–2026 da empresa. Esse avanço soma-se a outros, como o acordo de cooperação tecnológica e minerária entre Peru e Índia, e a realização do eCommerce Day Peru 2025, ocorrido entre 23 e 25 de julho. 

Fontes:

Por fim, o governo observou uma iniciativa legislativa do Congresso (Projeto nº 9645) que buscava modificar a base de cálculo do ISC para incluir apenas apostas com dinheiro real, reduzindo a arrecadação esperada em 90–95%. O Executivo alertou que a arrecadação anual cairia de S/ 289 milhões para entre S/ 14 e 28 milhões, o que comprometeria a receita tributária e a regulação sanitária do jogo online.

Fonte:

Brasil

Aumento de tarifas dos EUA, microbolsas sobre greenwashing e início dos ressarcimentos do INSS

O pacote tarifário anunciado pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros definiu o tom do mês: uma escalada de 10% para 50% no início de agosto gerou críticas de interferência política e levantou preocupações sobre como grandes empresas de tecnologia podem ter moldado essa agenda. No Brasil, o debate também ganhou contornos domésticos após a Advocacia-Geral da União pedir investigação sobre um possível vazamento de informação ao mercado ligado à notícia das tarifas.

No front socioambiental, foram divulgados os resultados de um programa de microbolsas focado em “greenwashing vs. transição energética”. Três propostas de reportagem foram selecionadas e financiadas, em um ano em que a discussão sobre transição energética se acelera rumo à COP30 e crescem as demandas por maior responsabilização corporativa em todo o Sul Global.

Na política social, o governo iniciou o ressarcimento de aposentados e pensionistas que sofreram descontos não autorizados em benefícios do INSS entre 2020 e 2025. A adesão pode ser feita pelo app/site Meu INSS, pela Central 135 ou nas agências dos Correios. Com recursos orçamentários extraordinários reservados, os pagamentos começaram no fim de julho; até meados de agosto, mais de um bilhão de reais haviam sido devolvidos a milhões de beneficiários.

Fontes:

Written by: Cleo