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O mês de junho de 2025 foi marcado por acontecimentos significativos em países da América Latina. México, Argentina, Brasil e nações da América Central e Andina enfrentaram mudanças econômicas, tensões sociais e marcos regulatórios importantes, com impacto direto nos rumos regionais e internacionais da política, da economia e da inovação.
Junho foi um mês relevante para o México nos aspectos econômico, político e social, já que trouxe informações-chave para o futuro do país tanto no curto quanto no médio prazo.
No aspecto econômico, destacou-se a decisão de política monetária do Banco do México. A autoridade decidiu cortar em 50 pontos-base a taxa de juros de referência, levando-a a 8%. Foi o quarto corte consecutivo dessa magnitude e a expectativa é de que o custo do dinheiro continue caindo.
O anúncio foi feito em um contexto de desaceleração da inflação, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI). Os preços ao consumidor subiram 4,51% na primeira quinzena de junho em relação ao mesmo período do ano anterior — abaixo dos 4,62% registrados na segunda quinzena de maio.
No comércio, o secretário de Economia, Marcelo Ebrard, reuniu-se no início de junho com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, para discutir as tarifas impostas por Donald Trump sobre as importações de aço e alumínio. Ebrard afirmou que um acordo pode ser alcançado em breve.
Diante dessas notícias e da redução da tensão no Oriente Médio entre investidores, somada ao avanço nas negociações entre China e EUA, o peso mexicano teve seu melhor trimestre desde 2020, com uma valorização de 10% em 2025 e um dos melhores desempenhos globais.
No campo político e social, destacou-se a histórica eleição do Poder Judiciário no início do mês. O México se tornou o único país do mundo a eleger juízes e magistrados democraticamente — um processo amplamente criticado que registrou uma participação de apenas 13% da população apta a votar.
A Argentina encerrou junho com uma leve aceleração da inflação, estimada entre 2% e 2,1% no mês, puxada principalmente pelos aumentos nos serviços regulados: combustíveis e alimentos, segundo consultorias privadas como Equilibra e LCG.
O Relatório de Expectativas de Mercado do Banco Central (REM) projetou uma inflação de 1,9% em junho e de 30% para todo o ano de 2025. Apesar da queda no desemprego para 7%, a precarização do trabalho persiste.
No campo social e político, houve um aumento nas manifestações contra os cortes promovidos pelo governo de Javier Milei — conhecidos como “a motosserra” — convocadas por sindicatos, trabalhadores informais, aposentados e estudantes universitários em Buenos Aires e outras províncias, pedindo mais investimentos em saúde, educação, ciência e financiamento universitário.
Por fim, no dia 12 de junho, a Comissão Nacional de Valores (CNV) aprovou a Resolução Geral nº 1069, que cria um regime pioneiro de tokenização de ativos do mundo real — como fundos fiduciários e fundos fechados — por meio da tecnologia blockchain, com equivalência legal em relação às formas tradicionais. Assim, a Argentina se posiciona como referência regional em inovação financeira com um marco regulatório claro para esses instrumentos.
A América Central deu um passo estratégico para se consolidar como hub logístico internacional com o lançamento da iniciativa ecoTRADE – Integração Econômica para um Comércio Sustentável na América Central, financiada pela União Europeia (UE) e executada pela SIECA. O projeto, com duração de 2025 a 2028, visa aumentar a competitividade regional por meio da eliminação de barreiras comerciais, agilidade nos processos de fronteira e implementação de ferramentas digitais alinhadas ao Pacto Verde Europeu.
Do ponto de vista estratégico, a iniciativa aproveita a posição geográfica da região como corredor natural entre continentes, ao mesmo tempo em que transmite confiança aos investidores ao fomentar um ambiente mais eficiente, sustentável e transparente. A articulação de políticas como o Plano Mestre de Mobilidade e Logística 2035, junto ao fortalecimento do Acordo de Associação com a UE, abre oportunidades para setores como infraestrutura, tecnologia, logística e e-commerce.
As exportações de bens da Costa Rica cresceram nos primeiros cinco meses de 2025, atingindo um recorde de US$8,99 bilhões — um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2024, com um acréscimo de US$994 milhões nas vendas externas.
O setor de equipamentos médicos e de precisão liderou esse crescimento, com US$4,2 bilhões em exportações. Com um aumento de 27% (+US$884 milhões), esse setor representa 47% de todas as exportações do país e é responsável por 89% de todo o crescimento nas exportações no período.
As remessas enviadas à Guatemala somaram US$11,33 bilhões até 19 de junho de 2025 — um aumento de 18%, o dobro do registrado no mesmo período de 2024, segundo o Banco de Guatemala (Banguat). Essa tendência impacta fortemente o consumo privado, arrecadação fiscal, política cambial e balança de pagamentos.
Embora se projete um crescimento anual entre 8% e 10%, o Banguat prevê desaceleração entre 1 e 7 pontos percentuais no próximo ano devido a políticas anti-imigração nos EUA. Ainda assim, os fluxos devem se manter, já que setores produtivos norte-americanos dependem de mão de obra imigrante. O PIB guatemalteco deve crescer 3,8% em 2025 e 3,9% nos dois anos seguintes, com recuperação no comércio exterior.
O Panamá se consolidou como referência regional na atração de investimento estrangeiro direto (IED) no setor logístico e portuário, graças à sua localização estratégica e ambiente confiável. Países como EUA, Taiwan e Singapura investem no país por meio de empresas como SSA Marine, Evergreen, PSA Panamá e DHL, que mantêm operações em solo panamenho.
Segundo Ricardo Lince, presidente da Associação Marítima Nacional (MAPA), o Panamá precisa modernizar urgentemente seu ecossistema logístico — especialmente a integração digital entre o Canal do Panamá e os portos locais, que hoje operam com baixa comunicação. Também é necessário oferecer serviços de valor agregado às embarcações, como manutenção técnica e custos trabalhistas competitivos, para reforçar ainda mais sua posição como hub logístico internacional.
O Banco Central de Reserva do Peru (BCRP) reduziu sua projeção de crescimento do setor minerador em 2025 de 2% para apenas 0,3%, devido à paralisação da Shougang e revisões nos planos de produção de outras empresas. No entanto, o presidente do BCR, Julio Velarde, afirmou que o Peru poderia dobrar sua produção se os projetos mineradores existentes forem executados. A expectativa é de recuperação em 2026, com expansão de 2,3%.
Por outro lado, segundo a IDC, empresas peruanas aumentaram em 38% os investimentos em inteligência artificial em 2025, somando mais de US$50 milhões. Cerca de 31,7% dos diretores de TI apontam a automação de processos como a principal prioridade para investimentos. Esse crescimento indica avanço acelerado da transformação digital, com aplicações em personalização, eficiência e análise de dados.
Nos dias 20 e 21 de junho, Lima sediou a quarta edição da Peru Blockchain Conference 2025, o maior evento do país sobre blockchain, criptomoedas e trading. Com mais de 3 mil participantes e 100 palestrantes internacionais, contou com nomes como Charles Hoskinson, cofundador da Ethereum e fundador da Cardano. A Sherlock Communications também participou, com uma palestra sobre como comunicar blockchain e criptomoedas na América Latina.
Em junho no campo legislativo, uma reportagem da Agência Pública revelou que, apesar dos avanços de pautas conservadoras, 57 projetos de lei pró-LGBTQIA+ foram apresentados em diferentes esferas do Legislativo no primeiro semestre do ano. A matéria aponta uma mobilização crescente pela garantia de direitos dessa população no país.
O meio ambiente também foi destaque no mês de junho: os alertas de desmatamento na Amazônia cresceram 92% em maio, levando especialistas e o próprio governo a alertarem sobre a possibilidade de colapso da floresta devido ao fogo, sobretudo em um cenário de seca extrema agravada pelas mudanças climáticas.
Por fim, o debate sobre o PL da IA segue quente: a Comissão Especial criada para regulamentar a inteligência artificial no Brasil ainda enfrenta críticas por falta de transparência e participação da sociedade civil.