Quando arte e antropologia se encontram no ativismo digital

A evolução dos seres humanos não foi apenas biológica, mas cultural. É esse o campo que a antropologia estuda: os rituais, crenças, práticas, mitos, valores e instituições que refletem nossas interações com o ambiente de acordo com o contexto social e histórico que estamos  inseridos.

É a busca para entender quem somos e porque somos. 

A co-evolução entre biologia e cultura

A biologia oferece uma base para o nosso comportamento e capacidade cognitiva, enquanto a cultura molda esses comportamentos e transcende os limites e as necessidades do corpo. 

Foi a partir da cognição que os seres humanos criaram linguagens, responsáveis por estabelecer vínculos sociais e promover a cooperação entre as pessoas, essenciais para a sobrevivência e reprodução, formando assim as comunidades.

O inverso também é verdadeiro: a cultura é uma extensão da biologia, pois evoca simbolismos, crenças, interpretações e manifestações singulares.

A relação entre antropologia e arte

Entre as manifestações do ser humano, está a arte.. Ela não apenas expressa pensamentos e perspectivas de um grupo ou época, mas também interpreta questões políticas, sociais e existenciais A arte comunica aquilo que muitas vezes não pode ser dito  em palavras

Sua evolução também ilustra as mudanças, culturais e biológicas, da humanidade. Desde padrões estéticos e vestimentas até alimentação, moradias, crenças e marcos históricos. Um exemplo bem antigo da arte como meio para o estudo antropológico é a estátua de Vênus de Willendorf.

venus of willendorf

Esta figura data do período Paleolítico Superior, aproximadamente entre 28.000 e 25.000 anos atrás, e é considerada um símbolo de fertilidade, evidenciado pelos quadris largos, que facilitariam o parto, e pelos seios fartos, associados à abundância de leite. Hoje, já sabemos que essa crença caiu por terra.

Antropologia e tecnologia

A cognição humana também possibilitou a evolução tecnológica, amplificando as fontes de estudo antropológico. 

Além da pesquisa etnográfica, que consiste em se inserir em uma cultura para entendê-la, agora, os antropólogos precisam compreender a relação entre o ser humano e a internet. 

Afinal, a tecnologia trouxe novas formas de expressão e comunicação, abrindo novas possibilidades para manifestar opiniões, críticas e crenças, além de criar vínculos com outras pessoas e culturas. 

Antropologia, arte e ativismo digital

Um grupo de pesquisa liderado por estudantes do MAL, a Pós-Graduação em Antropologia Multimídia da UCL, faz experimentos com som, filme, vídeo em VR/360, HQs, desenho, escultura e instalações para desafiar o pensamento antropológico e dialogar com públicos mais diversos. 

O cerne está na compreensão, pois a forma que o conhecimento é transmitido influência a forma que ele é entendido, interpretado. Um material mais acessível, desperta maior interesse e alcança pessoas e realidades que podem enriquecer e reformular percepções e conceitos ultrapassados.

A virada ontológica também é um pilar do MAL. Esta abordagem compreende as diferentes realidades e perspectivas de uma cultura.Ela questiona a noção de que há uma única forma de compreender o mundo, valorizando o reconhecimento das perspectivas singulares de cada cultura, ao invés de aplicar uma visão de fora.

Ainda, sua multimodalidade permite que as produções sejam não apenas um retrato do ser humano inserido em sua cultura, mas um mecanismo de alerta para comunidades que se encontram em situações vulneráveis. Como é o caso dos povos indígenas, um dos mais afetados pela crise climática e o racismo ambiental. 

Um convite à MultiCOP 

 Recentemente, a Presidência da COP30 lançou a plataforma Mutirão Global, uma ação coletiva que une pessoas, organizações e países para resolver problemas globais, como mudanças climáticas e crises de saúde. 

Baseado no conceito tupi-guarani de mutirão (Motyrõ), que envolve um esforço coletivo e auto-organizado para apoiar a comunidade em momentos de necessidade, esse modelo busca unir esforços para enfrentar desafios de forma colaborativa, compartilhando recursos e conhecimentos. A ideia é encontrar soluções mais eficazes e sustentáveis, promovendo o bem-estar coletivo.

 Em resposta a essa iniciativa, a UCL MAL criou a MultiCOP, evento online e gratuito, paralelo à COP30, para debater sobre a crise planetária e encontrar soluções para mitigar a crise climática e seus efeitos nas comunidades indígenas.

O convite é aberto à comunidades indígenas e detentores de saberes tradicionais, pesquisadores acadêmicos, profissionais das artes e da criação, ONGs e grupos de ação comunitária, indústrias de inovação, curadores de museus e profissionais de diversas áreas de especialização. 

Vamos?! Inscrições abertas até o dia 5 de novembro. Saiba mais em: https://www.uclmal.com/multicop-pt.

Written by: Beatriz Abdalla