Linguagem inclusiva: como se comunicar com todas as pessoas

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A forma como nos comunicamos está em constante transformação. As mudanças acontecem na língua, na cultura e na expressão individual em uma sociedade. A linguagem inclusiva, neutra ou a não-binária surgem como parte deste processo de compreensão de quem somos e o que queremos comunicar.

A transformação da linguagem

A linguagem é orientada por todas as pessoas que se utilizam dela, não existe em um cenário hipotético ou intocável. A língua se transforma para acompanhar os acontecimentos sociais do dia a dia e o papel de quem comunica é se adaptar. 

No caso dessas novas propostas de comunicação é necessário descolonizar o saber, abrir mão de uma ideia que tínhamos de linguagem para receber o novo – que também passará por constante adaptação. É pensar a partir de novos paradigmas. 

A necessidade de mudanças surgiu na internet a partir de um aprofundamento das discussões sobre gênero, identidade e sexualidade, e por uma questão simples: é através da linguagem que nos entendemos no mundo.  

Marcas e organizações discutem atualmente como implementar uma conversa horizontal com base nos seguintes preceitos: respeito, inclusão e diversidade. Sendo assim, como quem comunica pode adaptar a escrita ou a fala para incluir todes? O primeiro passo é entender as diferenças entre as linguagens.  

Linguagem neutra ou não-binária e inclusiva

Há diferença entre linguagem neutra e inclusiva? A resposta é sim! 

Linguagem neutra ou não binária

A linguagem neutra ou não-binária discute o binarismo de gênero (homem e mulher), e questiona a possível parcialidade da língua ao colocar a terminação ‘o’ como neutro na língua portuguesa, caso de “sejam todos bem-vindos” e “obrigado a todos”. 

As marcações de gênero colocam o masculino como “neutro” e o feminino no espaço de “outro”, como já dizia Simone de Beauvoir. Esse lugar ‘não-definido’ de si, e sim uma existência em relação ao homem e a partir dele. Diante destas críticas dos movimentos sociais, iniciou-se um processo para adaptar a língua portuguesa. 

Nem X, nem @

Inicialmente, na internet, as pessoas trocavam ‘o’ por ‘X’ ou até mesmo ‘@’. Entretanto, não são opções acessíveis – pode prejudicar quem utiliza tecnologias assistivas para fazer leituras na internet. 

A neutralidade é a proposta de uma nova estruturação para além do binarismo. Uma linguagem que é não-excludente. Para isto, alguns sistemas de comunicação foram criados, como ‘Elu/Delu’ e ‘Ile/Dile’, opções equivalentes ao ‘they/them’ em inglês. A neutralidade neste caso flexiona verbos e adjetivos para que acompanhem o gênero de quem fala. Não se aplica a animais e coisas.

Na internet, palavras como ‘todes’, ‘amigues’ e  ‘bem-vindes’ ficaram conhecidas, elas fazem parte do segundo sistema (ile/dile) e se tornaram ponto central na discussão de mudanças na língua. 

Linguagem inclusiva

Quanto a linguagem inclusiva, esta propõe uma nova forma de comunicação não-violenta e respeitosa, evita estereótipos, expressões preconceituosas e discriminatórias, mas não apresenta um sistema próprio. Busca ajustar a nossa comunicação para todas as pessoas,  aproveitar do repertório linguístico e explorar as inúmeras possibilidades da língua portuguesa. 

A linguagem inclusiva no dia a dia

Para as pessoas que trabalham na área da comunicação, é possível utilizar a linguagem no dia a dia? Separamos algumas dicas para incluir todes. 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileirou elaborou o Guia de Linguagem Inclusiva para Flexão de gênero com foco em comunicação social, as recomendações são a partir da Linguagem Inclusiva Não Sexista (Lins). 

Entre elas está: no cotidiano use palavras que mostrem coletividade, adjetivos sem utilizar demarcação de gênero e substitua palavras marcadas por gênero por outras neutras. Por exemplo: “todas e todos” ou “cidadãs e cidadãos”. Entretanto, opte por palavras que não caracterizem gênero específico ou que abracem ambos, como sociedade ou pessoal. 

Eliminar pronomes de referência masculina

Uma outra opção é eliminar pronomes que fazem referências masculinas, de “os colegas de trabalho” para “colegas de trabalho”. No caso de substantivo comum de dois gêneros (intérprete, imigrante, cliente e chefe), é só retirar o elemento que demarca gênero para evitar o masculino genérico.  

O uso de “pessoa(s)” e “quem” no lugar de substantivos masculinos também pode ser uma boa saída. Perceba como desde o início deste texto, essas duas palavras foram utilizadas algumas vezes. 

Linguagem inclusiva em outros recortes

As regras para o espanhol são similares às aplicadas pelo português. Em inglês, a demarcação de gênero não é tão presente, então o que é alterado são os pronomes. 

A atenção é também com todos recortes da sociedade: gênero, raça, sexualidade, doenças visíveis ou não e idade do público. 

No final, é sobre o cuidado de quem escreve para quem lê. O público é feito por pessoas, únicas, com histórias, contextos e vivências. Sendo assim, é importante que essas pessoas sintam-se respeitadas ao ler seu texto. 

Marcas inclusivas na América Latina

Nos países da América Latina, as marcas avançam e criam campanhas publicitárias. O Google Brasil implementou, por exemplo, o uso da linguagem inclusiva na comunicação interna da empresa, desenvolveram um manual aplicado em treinamentos para que todas as pessoas tenham opções na linguagem. 

O Instituto [SSEX BBOX], organização não governamental que desenvolveu o sistema ‘ile/dile’, já fechou diversas parcerias com marcas para tornar os espaços inclusivos e unir diversas vozes. O iFood e Doritos Brasil foram algumas marcas que fizeram parcerias com o instituto, assim como a Uber, Disney, TikTok, Unilever e a Adobe. 

As marcas perceberam a importância da representatividade e da diversidade nas campanhas publicitárias, incluindo a linguagem inclusiva,e agora é necessário que as pessoas que se comunicam prestem atenção no que reproduzimos hoje – resultado de transformações que ocorreram na língua nas últimas décadas, no processo histórico brasileiro e que continuarão.

Written by: Ingrid Leone