Povos Indígenas no Brasil buscam representatividade na comunicação

Sherlock Communications > Blog > Histórias da América Latina > Povos Indígenas no Brasil buscam representatividade na comunicação

Aac

Já se tornou algo muito ultrapassado pensarmos que os povos indígenas no Brasil não possuem acesso à comunicação por viverem em aldeias. Atualmente, além de montarem estratégias para estarem sempre ‘por dentro’ das últimas notícias, eles também estão em busca de mais representatividade por meio da mídia e da publicidade. 

Um dos movimentos que luta por esse acesso à comunicação é a Rede Xingu+, que surgiu em 2018 para garantir a proteção territorial. No ano seguinte surgiu a ideia de montar um grupo de comunicadores, formado por indígenas de diferentes aldeias, para utilizar recursos de comunicação – como textos, vídeos e áudios – na defesa da Bacia do Xingu. 

Com o objetivo de entender mais sobre a cultura dos povos indígenas brasileiros e o papel da comunicação em suas aldeias, a equipe de Diversidade e Inclusão da Sherlock Communications convidou a coordenadora da Rede Xingu+, Sília Moan, e o indígena do ‘Baixo Xingu’ Are Juruna para um bate-papo com seus consultores. 

Durante a conversa, Are Juruna – que faz parte do grupo de comunicadores – explicou que sua missão é transmitir o que a sua aldeia está pensando e fazendo, e também manter sua comunidade atualizada sobre o que está acontecendo no Brasil. Para isso, ele e seus colegas foram enviados para cobrir os recentes protestos que ocorreram em Brasília, capital do Brasil, contra o marco temporal. 

Protestos em Brasília foram destaques no país

Grande parte dos veículos de comunicação do Brasil deram muita atenção aos protestos realizados por grupos indígenas em Brasília neste ano. Eles realizaram movimentos contra o marco temporal para demarcação de terras indígenas, imposto no Projeto de Lei 490. Desde o início de junho, centenas de indígenas acamparam na capital brasileira para pressionar o Congresso Nacional pelo veto do projeto. 

Este Projeto de Lei prevê alterações nas regras de demarcação de terras indígenas, criando um ‘marco temporal’. Dessa forma, só serão consideradas terras indígenas os lugares ocupados pelos povos tradicionais até o dia 5 de outubro de 1988. Além disso, as novas regras abrem possibilidades para exploração hídrica, mineração, garimpo, e mais. 

Essas mudanças podem causar grandes riscos não apenas para os povos indígenas, que estão no Brasil desde antes dos europeus, mas para o próprio meio ambiente. É por essas razões que os indígenas estão protestando e batalhando para acabar com esse projeto de lei. 

Segundo Are Juruna, ele e os outros comunicadores da Rede Xingu+ estavam em Brasília para buscar o caminho correto das informações e levá-las para suas respectivas aldeias de forma completa e transparente, para que todos os indígenas pudessem estar atualizados sobre o andamento dos protestos e votações. Quando retornou ao Baixo Xingu, no Mato Grosso, Are percorreu a aldeia mostrando para seus colegas os vídeos e fotos que foram feitos para explicar os ocorridos. Para ele, seu objetivo é não permitir que sua aldeia caia em ‘fake news’

O combate às fake news

As notícias falsas que circulam na internet e nas redes sociais também são um problema para os povos indígenas. Segundo Sília Moan, este foi um grande desafio enfrentado pelos comunicadores da Rede Xingu+ durante a pandemia de Covid-19. Isso porque muitos áudios circularam sobre as vacinas, dizendo que transformariam as pessoas em jacarés e que eram ‘coisa do demônio’. 

Infelizmente, muitos moradores da aldeia acabaram acreditando e o grupo de comunicadores precisou agir. Eles coletaram todas as fake news que estavam sendo veiculadas e começaram a criar, em conjunto com os médicos do Xingu, conteúdos de qualidade para rebater essas notícias falsas. 

Para isso, eles começaram a gravar podcasts para serem distribuídos por meio de aplicativos de mensagens, como WhatsApp, e pelas rádios das aldeias – uma pessoa circula pela comunidade com um rádio para informar quem não tem acesso à internet. Esta foi a melhor forma que a Rede Xingu+ encontrou para prezar pela comunicação verdadeira e proteger seu povo. 

Inclusive, os podcasts possuem grande alcance dentro das aldeias, tendo sido muito bem aceitos pelos indígenas. O formato se tornou uma importante forma de comunicação entre a Rede Xingu+ e as comunidades indígenas. Além disso, também são usados boletins, vídeos, cards e até animações. 

Representatividade e Responsabilidade

Além de aprender sobre a cultura indígena, também é muito importante que as mídias e agências de comunicação se preocupem com a forma como representam estes povos em suas reportagens e publicidades. 

Sília Moan garante que isso tem mudado bastante ao longo dos anos. Hoje, já é possível encontrar artigos em grandes jornais e portais de notícias não apenas sobre indígenas, mas escritos por indígenas, o que já é um grande passo. Mas, infelizmente, alguns locais ainda tratam o tema com muito preconceito, o que precisa mudar com urgência. 

Uma das providências tomadas por Moan foi trabalhar com os comunicadores para que possam trabalhar pautas para serem inseridas nas mídias locais e nacionais, para apresentar suas visões de mundo e quebrar os estereótipos preconceituosos. 

O que os veículos de comunicação, empresas e agências podem fazer é apoiar a disseminação de conteúdos verdadeiros e de qualidade na mídia, incluir pessoas indígenas nas publicidades e trabalhar a representatividade e a quebra de preconceito dentro de suas empresas. Estes já são passos importantes para preservar a cultura e a vida dos povos indígenas no Brasil.

https://unsplash.com/photos/0G9rZGQqGig Picture by Tatiana Zanon
Written by: Mariana Nadaleto